9.9.11

Os Espiões



"Formei-me em Letras e na bebida busco esquecer"

É com esta frase que Veríssimo abre seu último romance. Mais conhecido por seus textos de humor, crônicas e contos que escreve, eu particularmente gosto demais quando o autor se arrisca nos romances, na maioria das vezes encomendados por editoras, o que não é o caso com Os Espiões.

Em primeira pessoa, na pele de um editor boêmio, sonhador e frustrado com a sua carreira de escritor, com uma vida enfadonha, mergulhado numa rotina infindável que busca na bebida algum tipo de libertação, até com hora e data marcadas, que Veríssimo desenrola uma história cativante e totalmente envolvente.

O tal editor da vida sem graça, desconta todas as suas angústias em cartas mal educadas e grosserias aos pseudo autores que chegam a sua mesa querendo ser publicados em plena segunda feira.
Entretanto, tentando se curar de uma ressaca, um envelope branco chega a sua mesa não só como uma promessa de livro a ser publicado com um a história pra lá de interessante. O tal envelope chega a sua mesa como um pedido de ajuda de uma possível suicida, com uma história fantástica e principalmente como uma ajuda ao próprio editor que usa tudo isto para escapar da sua vida entediante.

Tamanha é a mediocridade de sua vida que o personagem se vê totalmente envolvido pela autora provável suicida que pede ajuda sem pedir. Ou pelo menos é o que ele acredita. Junto com seus amigos de bar e inspirado por seu autor preferido, John le Carré, seguindo o mesmo ritmo de romance policial, cheio de intrigas, o editor se aprofunda cada vez mais na história de Ariadne, a autora suicida, buscando semelhança no mito grego onde a Ariadne original ajuda Teseu a sair do labirinto do minotauro estendendo um fio de esperança que salvará a todos.

Veríssimo pega este fio, assim como o personagem principal, e trança uma bela trama de suspense, envolvendo mitos gregos, muitas referências literárias e um clima de espionagem, quase cômico, pontuado sempre pela busca de aventura para o editor achar um sentido para a sua vida, junto com seus amigos que têm a vida tão ou mais sem sentido como a dele.

Um livro excelente, muito bem estruturado, onde nada escapa da teia de Veríssimo, arquitetado com primor e com um toque de humor negro e culto que captura a todos.

O que amarei se não for o enigma?
Giorgio De Chirico

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