Uma das primeiras coisas que se aprende ao morar em Londres é que um dia de sol não pode ser desperdiçado de maneira alguma. O porquê disso, você já deve imaginar: a ilha passa boa parte do ano com tempo nublado, cinza, sem a presença de raios UV. Logo, ativar a vitamina D no corpo não é uma das tarefas mais fáceis de ser realizada em solo britânico...
Por isso, os ingleses não têm o menor pudor em aproveitar literalmente qualquer espaço disponível ao ar livre quando o tempo ajuda. Pode ser no jardim de casa, na praça perto do trabalho, ou até mesmo, acredite, no cemitério! O pessoal por aqui está tão acostumado a buscar o sol a qualquer custo que exigir cenários paradisíacos a beira-mar realmente não é um luxo ao qual eles se dão direito. Estive há alguns dias em Brighton, um balneário bem famoso aqui na Inglaterra que fica há cerca de duas horas de Londres. A cidade é um bom exemplo de como ir à praia no Reino Unido pode ser uma experiência completamente diferente daquela que estamos acostumados no Brasil.
Para começo de conversa, não precisa estar necessariamente quente para o pessoal se dispor a colocar o pé na areia. Basta não estar chovendo e o termômetro marcar pouco mais de 15 graus, que você vai encontrar várias pessoas passeando pelas praias de Brighton. Agora, não espere ver biquinis descolados nem sungas da estação. A moda na praia da Inglaterra é não ter moda mesmo! Calça jeans, moleton e, se possível, uma jaqueta para quando começar a esfriar. É bizarro, mas é assim.
E ninguém se incomoda de ir à praia completamente vestido porque isso, de fato, não é um problema. Não tem areia na praia de Brighton! Sabe o fundo do aquário que você tinha quando era criança, cheio de pedriscos monocromáticos? Pois é, ele foi inspirado nas praias de Brighton. Mas, os ingleses parecem nem ligar. Estendem suas toalhas, deitam, fazem piquenique e curtem na boa.
Evidente que nessas condições, os banhistas são raridade. Uma ou outra criança se arrisca no mar gelado do Canal da Mancha e só. Diante da falta de areia, a prática de esportes nessa praia também é bastante limitada. Nada de futebol, frescobol ou vôlei. O pessoal por aqui prefere se dedicar a outra atividade muito popular na Inglaterra: a embriaguez. Grupos de amigos com garrafas de bebida são muito comuns e, graças as leis locais, podem beber sem maiores problemas.
Quem, como eu e meus anfitriões, chega a praia despreparado, tem sempre à disposição um pub de frente para o mar. Pints de cervejas europeias, fish and chips e as populares cidras são as especialidades.
De qualquer ponto da praia, é possível ver o pier de Brighton. Confesso que não esperava muito da “atração” e os meus amigos locais fizeram questão de rebaixar ainda mais as minhas expectativas. Só que ir a Brighton e não ir ao pier é como viajar ao Rio e não visitar o Cristo. Chegamos lá e encontramos um lugar um pouco pior do que eu esperava. Na verdade, trata-se de um mini cassino infanto-juvenil bem decadente com aquelas máquinas caça-níquel para todos os lados, fliperamas considerados desatualizados até pelos office-boys da praça da Sé e um parque de diversões que me fez lembrar o pier de Santos... A única verdadeira atração do lugar são os quiosques de comida. Em um deles, provamos o marisco local. Não sei como, mas o potinho com a iguaria tinha ao menos 10 vezes mais areia do que a praia da
cidade! Ainda assim, estava gostoso...
Enfim, at the end of the day, como gostam de repetir os britânicos, o que vale é a companhia dos amigos. E essa, sem dúvida, foi muito boa. Mas, definitivamente, Brighton não é o lugar certo para se bronzear!
* Ulisses Neto e jornalista e mora em Londres a alguns meses e tambem escreve no blog Cheers London.
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